sexta-feira, 18 de junho de 2010

O CONHECIMENTO DA FÍSICA É CONHECIMENTO CIENTIFÍCO*

Resumo: O objetivo desse trabalho é esclarecer o conhecimento da Física como sendo um conhecimento científico. Existe a pretensão, aqui, de apresentar suportes significativos sobre o que seria a ciência propriamente dita, bem como conhecimentos científicos e objetos de estudo da ciência da Física. Considera-se que, no presente trabalho, esses aspectos são abordados, tendo por base contextos de caráter histórico e estudos atuais.

Palavras – chave: Ciência, Física, Conhecimento Científico, Objeto de estudo, Método.

1. A Física se enquadra no atual conceito de ciência

       Durante o processo histórico de desenvolvimento do ser humano, foram produzidas formas de saber e dizer sobre os objetos da nossa realidade. É por essa razão que se pode dizer que este saber se manifesta através de um conhecimento popular ou senso comum, do conhecimento religioso, do conhecimento filosófico e do conhecimento científico. Estes diferentes tipos de conhecimento tentam explicar a realidade entendendo, de forma satisfatória, os objetos, fatos e fenômenos. No entanto, é preciso dizer que tais conhecimentos se diferenciam uns dos outros por características que são próprios de cada um.
        Mas, o que interessa aqui é o conhecimento científico, o qual é preciso ser definido antes de se declarar que a Física é uma área desse conhecimento. Porém, é importante mencionar que a ciência não é a única forma de conhecimento que leva a compreender o mundo.
        Segundo Trujillo Ferrari (apud DIAS, FERNANDEZ, 2000), “ciência é todo um conjunto de atitudes e de atividades racionais, dirigida ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
        Através do conceito moderno de ciência proposto por Ferrari (2000), vê-se que ela possui características que acabam limitando as áreas de conhecimento – que podem ser destacadas como ciência -, pois este conceito possui um único método que tem como exigência o conhecimento racional. Este, por sua vez, procura encontrar os resultados almejados através de um procedimento metódico, sistematizado e verificado.
        Mas, as visões de ciência podem e devem ser criticadas, pois o conhecimento científico não é a única forma de conhecimento que proporciona a verdade. Além disso, a falta de uma visão crítica e a aceitação passiva de um conjunto de idéias pode esconder as limitações da concepção moderna de ciência. Quanto a isso, pode-se destacar que:


A ciência é muito boa - dentro de seus precisos limites. Quanto transformada na única linguagem para se conhecer o mundo, entretanto, ela pode produzir dogmatismo, cegueira e, eventualmente, emburrecimeto.” (ALVES, 1999).

       Mostrar que a Física se enquadra na configuração de ciência, que temos hoje, não é complicado. Pois segundo Aranha (1993), a própria revolução galileana proporcionou a atual concepção de ciência com o surgimento do objeto e a importância do método. A partir dessa mudança, veio a necessidade de se fazer e pensar uma nova ciência, dando uma nova lógica para a Física.
        Pode-se dizer que a Física se enquadra como ciência, pois é uma atividade que busca, de forma lógica, coerente e consistente o conhecimento que compreende os fenômenos da natureza. Esse conhecimento surge dos métodos de experimentação e análise de dados disponíveis ao pesquisador.

2. Objeto e Método da Física

        O objeto de uma ciência é aquilo que ela se propõe a conhecer, é a parte da realidade sobre a qual ela pretende realizar seus estudos. O universo, a realidade que construímos, são entidades complexas para serem compreendidas por uma mesma pessoa ou serem estudadas em sua totalidade. Assim, cada ciência delimita sua área específica de estudo.
        É preciso não confundir os objetos de estudo das ciências com fenômenos e processos naturais ou sociais. Deve-se ter em mente que um mesmo fenômeno pode ser objeto de várias ciências, por exemplo: o homem é objeto presente nos estudos de quase todas as ciências, mesmo que de forma indireta.
        Pode-se dizer que, ao definir seu objeto de estudo, uma ciência não está selecionando quais processos vão estudar, mas quais aspectos vão ser enfatizados. Vale ressaltar que a definição do seu objeto de estudo é um dos critérios necessários para que uma área qualquer do conhecimento seja caracterizada como ciência.
        A Física tem como objeto de estudo o Universo e toda a sua complexidade, pesquisando desde partículas subatômicas, átomos e moléculas até fenômenos que envolvem grandes aglomerados delas, como a matéria ordinária.
       Sendo a Física sub-dividida em várias áreas distintas: Mecânica, Termodinâmica, Eletromagnetismo e Física Moderna, onde cada uma tem seu objeto de estudo específico. A Física Nuclear, como exemplo, estuda a estrutura de núcleos nos estados fundamentais e excitados, o estudo de interações entre núcleos e outras partículas, tais como fótons, elétrons, etc. Enquanto o Eletromagnetismo trata da inter-relação entre campos elétricos e magnéticos variáveis no espaço e no tempo, bem como de sua propagação.
        Segundo Aranha (1993), a ciência moderna nasce ao determinar um objeto especifico de investigação e ao criar um método pelo qual se fará o controle desse conhecimento.
Pode-se dizer também que os métodos indicam como a ciência vai estudar e/ou analisar seu objeto: “[...] o método científico é um conjunto de concepções sobre o homem, a natureza e o próprio conhecimento, que sustentam um conjunto de regras, de ação, de procedimento, prescrito para se construir conhecimento científico”. (ANDRERY, 1988, p. 164).
        Os métodos não são apenas formas de avaliar afirmações, mas são também caminhos para se chegar a essas afirmações. O conhecimento dos diferentes métodos pode auxiliar a elaborar melhores discussões, bem como desenvolver afirmações com maior grau de fidelidade à situação a que se refere o estudo da metodologia. A Física, por exemplo, é dividida em duas categorias: a teórica e a experimental. A teórica se preocupa com a construção de modelos e teorias para o estudo dos fenômenos; enquanto, a experimental, está diretamente relacionada com a construção e utilização de equipamentos na verificação de fenômenos sugeridos pelos modelos teóricos.

3. Os possíveis objetivos da Física

        A Física tem como objetivo compreender, por meio de teorias e experimentações, aspectos cada vez mais complexos da natureza, proporcionando uma vida melhor e mais confortável para a sociedade. A descoberta das ondas eletromagnéticas propiciou a invenção do rádio, da televisão, do radar e dos sofisticados meios de telecomunicações que estão incorporados na sociedade moderna.
       Quando se olha ao redor, aeronaves cortam o céu, usinas geram eletricidade que possibilitam o funcionamento de equipamentos como elevadores, geladeiras, microcomputadores e telefones celulares. Estes são exemplos dos diversos ramos da engenharia que utiliza conhecimento da Física. Mas, qual o objetivo de todas essas invenções? Percebe-se, quanto a esse aspecto, que:


[...] desde a invenção das ferramentas toscas, criadas pelos homens primitivos, até a profusão de instrumentos por nós usados nos dias de hoje, a Física vem procurando atingir esse sentido: aumentar nosso domínio sobre as forças da natureza, ampliar o alcance de nossa comunicação com pessoas e locais diversos, tornar nossa vida mais amena e menos perigosa etc. (HORGAN, 1998).


        A cada novo modelo, proposto e aceito pela comunidade científica, a visão do cosmos se amplia e uma melhor percepção dos fatos torna-se possível. A especulação mais profunda da natureza, por sua vez, faz crescer no homem o hábito de observá-la e contemplá-la. O conhecimento da Física é capaz de conduzir o ser humano nesta direção. Sendo que, quando o homem estuda a Física, mesmo que indiretamente, tem o interesse de, em suas criações, desvendar as relações da natureza.
        Contudo, apesar das tecnologias desenvolvidas pela Física que proporcionou conforto e bem estar, nem todo o conhecimento advindo dessa ciência foi utilizado para contextos pacíficos. A falta de uma visão critica de como esse conhecimento cientifico foi usado décadas atrás, por exemplo, na Segunda Guerra Mundial na produção da bomba atômica, pode esconder a influencia que a cultura tem sobre a ciência. Nem como ela é apresentada nos dias atuais em escolas, onde as representações são permeadas por visões de que a Física é algo difícil e desnecessário para a comunidade.
        Portanto, enquanto formadores de opinião os estudiosos da Física tendo um maior contato com essa forma de conhecimento, devem evitar que essa ciência seja julgada como algo desnecessário, pois é através dela que pode-se entender melhor o ambiente e as relações entre homem, fenômeno e sociedade.

4. Considerações Finais.

        Pode-se perceber que praticamente não existe uma participação ativa da sociedade perante os assuntos que dizem respeito às conseqüências sociais, proporcionadas pelo conhecimento científico, isto é, o conhecimento científico está nas mãos de quem detém o poder, para um fim especifico. Pouco se discute sobre pesquisas e seus benefícios e/ou malefícios para a sociedade. Segundo Chauí (2008): 


a sociedade, porém, não luta pelo direito de interferir nas decisões de empresas e governos quando estes decidem financiar um tipo de pesquisa em vez de outra. Dessa maneira, o campo científico torna-se cada vez mais distante da sociedade sem que esta encontre meios para orientar o uso das ciências, pois este é definido antes do início das próprias pesquisas e fora do controle que a sociedade poderia exercer sobre ele. (CHAUÍ, 2008. p. 286).


        Não podendo deixar de falar da importância das descobertas da Física para a economia, alguns físicos estavam interessados em experiências que solucionassem problemas práticos e, de fato, os resolviam. Mas, as suas teorias explicavam muito mais. Acabavam, na maioria das vezes, em grandes descobertas. Como, por exemplo, a descoberta da física quântica, permitindo a explicação da estrutura do átomo. Não se pode desvalorizar todo o trabalho e toda a contribuição da Física no desenvolvimento tecnológico, mas existe a preocupação quanto as suas conseqüências, pois nem sempre é usada para fazer o bem. Existe uma ligação crucial entre a ciência e o papel social. Sobre isso, Merton, escreveu:

É fácil constatar que a ciência é uma força dinâmica de mudança social, embora nem sempre de mudanças previstas ou desejadas. De vez em quando até os físicos saiam de seus laboratórios para reconhecer, com orgulho e surpresa, ou para repudiar, com horror e vergonha, as conseqüências sociais do seu trabalho. A explosão da primeira bomba atômica sobre Hiroshima nada mais fez do que comprovar o que todo mundo sabia. A ciência tem conseqüências sociais.


        Pode-se, então, dizer que a descoberta da cura de doenças antes, tidas como incuráveis, o grande número de produtos em prol da juventude eterna, a revolução eletrônica, exigindo cada vez mais, uma mudança de postura e aperfeiçoamento da sociedade, faz parte de um mundo chamado ciência, no qual a Física está inserida e tem dado inúmeras contribuições, nos mais diversos campos, por exemplo, econômico, social, tecnológico.
        Existe uma preocupação, por parte da sociedade, em preservar os patrimônios históricos, na valorização da cultura que está cada vez mais se perdendo. E, pouco ou quase nunca, incluiu-se à Física nesse contexto, Cometendo um grande equivoco. Para João Zanetic, Física e Cultura são indissociáveis.

Quando se fala em cultura, raramente a Física comparece na argumentação. Cultura é quase sempre evocação de obra literária, sinfonia ou pintura; cultura erudita, enfim. Tal cultura, internacional ou nacional, traz à mente um quadro de Picasso ou de Tarsila, uma sinfonia de Beethoven ou de Villa Lobos, um romance de Dostoievski ou de Machado de Assis, enquanto que a cultura popular faz pensar em capoeira, num samba de Noel ou num tango de Gardel. Dificilmente, porém, cultura se liga ao teorema de Godel ou às equações de Maxwell. (JOÃO ZANETIC, 2005).


Então, por que não falar do eclipse lunar, do arco-íris, dos estragos causados pelos raios e até mesmo das equações de Maxwell entre os amigos em uma conversa informal? Por que não se inspirar na ciência para criar os seus romances e torná-los indispensáveis entre as obras literárias mais importantes da humanidade? Por que não Tornar a Física uma cultura popular?

Referências

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo Ed. Ática, 2000;


PIRES, Antonio S. T. Evolução das idéias da física. Editora livraria da física. Edição 1ª. Ed. 2008;

WALTER, P. Revista espaço acadêmico – nº 85 – junho/ 2008;

Horgan. Disponível em: http://www.polbr.med.br

ZANETIC, João. Ciência e Cultura. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br;

ARANHA, Maria. Filosofando, Introdução á Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência. Introdução aos jogos e as suas regras. São Paulo: Loyola, 2005.

DIAS, Cláudia; FERNANDES, Denise. Pesquisa e método científicos. Brasília, Março de 2000. P.03-04.

* Deraldo Augusto Santos Neto , Douglas Macedo Machado , Ivanê Ferreira Santos, Miguel Levy Santos Correia, Murilo Lacerda Santos. Artigo elaborado pelos estudantes do curso de Licenciatura em Física do Departamento de Ciências Exatas (DCE) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, pela disciplina Metodologia da Pesquisa Científica ministrada pelo professor Clédson Luciano Miranda dos Santos.




quinta-feira, 17 de junho de 2010

- léon Foucault, descrevendo seu experimento com o pêndulo em 1851

" O fenômeno desenvolve-se calmamente, mas é inevitável, ininterrupto. Podemos senti-lo, podemos vê-lo nascer e crescer gradualmente; e não está em nosso poder acelerá-lo ou retardá-lo. Qualquer pessoa, presenciando esse fato, pára por alguns instantes e permanece pensativa e silenciosa; e, depois, geramente sai, levando consigo para sempre uma noção mais nitida e precisa de nosso incessante movimento pelo espaço."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Física é Cultura?

“Quando se fala em cultura, raramente a Física comparece na argumentação. Cultura é quase sempre evocação de obra literária, sinfonia ou pintura; cultura erudita, enfim. Tal cultura, internacional ou nacional, traz à mente um quadro de Picasso ou de Tarsila, uma sinfonia de Bethoven ou de Villa Lobos, um romance de Dostoievski ou de Machado de Assis, enquanto que a cultura popular faz pensar em capoeira, num samba de Noel ou num tango de Gardel. Dificilmente, porém, cultura se liga ao Teorema de Godel ou às equações de Maxwell.” (João Zanetic)